Advento
Sentido teológico e espiritual do tempo de Advento – Natal – Epifania
O povo de Deus, a exemplo de Maria, vive a espera da vinda do Senhor,iluminado pelos textos da Bíblia e pela experiência da Liturgia.
1 – A liturgia escola de vida
A liturgia é experiência e escola de fé no encontro com o Senhor, origem e
escola de oração e de vida cristã, para viver junto com a igreja o mistério de Cristo.
A fé da igreja se exprime na liturgia e a liturgia alimenta a sua fé. Que se traduz em vida
Importante conhecer o sentido teológico e espiritual da liturgia de Advento – Natal
– Epifania, através dos ritos e dos textos bíblicos, patrísticos (Lit. das Horas) e
eucológicos (orações – prefácios – hinos, ecc), para participar à sua celebração em
maneira “plena, cociente e ativa” (SC 14).
Participando e meditando a liturgia deste tempo litúrgico, a igreja nos faz conhecer
e viver também a experiência de fé e amor com que Maria viveu o chamado de Deus a
colaborar em maneira especial na realização do seu projeto de salvação (Anunciação ),
a espera do nascimento do fruto da ação do Espirito Santo nela (visita a Isabel e
nascimento), a surpresa diante da festa dos pobres pastores (Belém) e da adoração dos
eminentes sábios do oriente( Epifania).
2- Manifestação/Vinda do Senhor: é o mistério – assunto central que anima a liturgia e
a espiritualidade do tempo de Advento – Natal – Epifania.
À ela correspondem na igreja as atitudes interiores da espera, da vigilância, da
perseverança e da esperança. A páscoa do Senhor é o início da nova criação, a
inauguração do “tempo último”, o gemido do parto do novo mundo (Rm 8,22-25). A igreja
vive o caminho do seguimento de Cristo, na espera do cumprimento da sua conformação
definitiva a ele: vive entre a “memória “ da páscoa de Jesus e a “espera” da sua “vinda
gloriosa/manifestação plena”.
Quando a igreja celebra a memória do Natal-Epifania…a celebra na espera da sua
manifestação/vinda definitiva e gloriosa. E o Advento, que significa “Vinda”, prepara a
comunidade não apenas aos acontecimentos de Natal-Epifania, (3-4 domingo de Adv. e
17-24 dez.) mas também à vinda gloriosa final (dom 1-2 de Ad., como os domingos 33-34
do tempo ordinário).
Duas fontes nos proporcionam a espiritualidade deste tempo litúrgico:
- a- Origem histórica das festas de Natal e Epifania em Roma e no Oriente (séc. 4)
para celebrar a “manifestação/presença do Senhor” na encarnação (Natal) e no
encontro com os três reis e no batismo (Epifania). Ao escolher estas datas a igreja
segue a pedagogia da “ inculturação” nas festas pagãs pré-existentes que
festejavam a força vital do Sol/luz. - b – Textos da liturgia e dos padres da igreja.
Alguns temas espirituais salientes :
- Advento:
Preparação ao Natal e espera/preparação à vinda gloriosa2
- Prefácio do Advento: desenvolve o tema das duas vindas
“Revestido da nossa fragilidade, ele (Cristo) veio a primeira vez para realizar seu
primeiro plano de amor e abri-nos o caminho da salvação. Revestido de sua gloria, ele
virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje,
vigilantes, esperamos.”
Santo Agostinho: “Nós cristãos em comparação com os infiéis, já somos
luz…Todavia em comparação com aquela luz a que chegaremos., ainda é noite, até o
mesmo dia em que estamos…(LH Sem. 34, 3 feira). - “Canta e caminha…aqui embaixo, cantemos o Aleluia, ainda apreensivos, para
podermos cantá-lo em cima no céu , tranqüilos…( LH 34, sábado).
2- Natal
Prefácio 3 do Natal – “intercâmbio” entre Deus e homem no mistério da encarnação.
“ Por ele, realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos dá a vida nova em plenitude. No
momento em que vosso filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma
incomparável dignidade: ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos.”
Vésperas Oitava do Natal, ant. n.1: ““Admirável intercâmbio! O criador da humanidade,
assumindo corpo e alma, quis nascer de uma Virgem. Feito homem, nos doou sua própria
divindade!” (Vésperas Oit. Natal, Ant. 1).
São Leão Magno: ““Despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos; e tendo sido
admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne.
Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não
voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de qual cabeça
e de qual corpo és membro. Recorda-te que foste arrancado do poder das trevas e levado para a luz e
para o reino de Deus. Pelo sacramento do batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses
com más ações tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua salvação
é o sangue de Cristo” (Serm I sobre a Natividade,3 – Off. das Leit. Natal)
“ A festa de hoje renova para nós os primeiros instantes da vida sagrada de Jesus, nascido
da Virgem Maria. E enquanto adoramos o nascimento de nosso Salvador, celebramos também o
nosso nascimento. Efetivamente, a geração de Cristo é a origem do povo cristão; o Natal da Cabeça
é também o natal do Corpo.( São Leão Magno, LH 31 de Dez)
3 – Epifania
Prefácio : manifestação do Senhor a todos os povos
“Revelaste, hoje, o mistério de vosso filho como luz para iluminar todos os povos no caminho da
salvação,. Quando Cristo se manifestou em nossa carne mortal, vós nos recriastes na luz eterna de
sua divindade.” (discípulos e missionários).
4 – – “Hodie ! – “Hoje!”” – Atualidade do mistério de Cristo no seu corpo vivente, que é a
igreja e cada pessoa e comunidade
O acontecimento histórico da vida de Jesus que celebramos é ao mesmo tempo “graça que nos
transforma e salva (sacramentum) e “modelo de vida a imitar” (exemplum).
“ Hoje Cristo nasceu, e apareceu o Salvador. Hoje na terra os anjos cantam e se alegram os
arcanjos. Hoje exultam de alegria os homens justos ao dizer: ‘Glória a Deus nos altos dos céus .
Aleluia, aleluia!’” (Ant Magn 2 Vesp de Natal).
“ Hoje a Igreja se uniu a seu celeste esposo, porque Cristo lavou no Jordão o pecado
(batismo); para as núpcias reais correm magos com presentes (epifania – os magos); e os convivas
se alegram com a água feita vinho (núpcias de Cana). Aleluia.” ( Ant Ben- Laudes, Epif).3
São Bernardo: fala da tríplice vinda do Senhor: na humildade da encarnação – no secreto das
consciências cada dia – na glória da vinda escatológica. Elas interagem uma com outra.
A linguagem da liturgia é mais do que poética! Ela é global e sintética, ao perceber aspectos
e etapas do desígnio de Deus na unidade do seu olhar! E o mistério de Deus que fica atuando-se na
vida….. A liturgia è seu espelho e sua nascente inesgotável.
5 – Cada cristão, como Maria, é chamado a gerar o Verbo de Deus na própria vida vivida
na fé.
“Isabel diz a Maria: Feliz és tu que acreditaste (Lc 1,45). Felizes também vós, que ouvistes e
acreditastes, pois toda alma que possui a fé, concebe e dá à luz a palavra de Deus e conhece suas
obras. Esteja em cada um de vós a alma de Maria para engrandecer o Senhor: em cada um esteja o
espírito de Maria para exultar em Deus.
Embora segundo a natureza haja uma só mãe do Cristo, segundo a fé o Cristo é o fruto de
todos; pois toda alma recebe o Verbo de Deus desde que, sem mancha e libertada do pecado, guarde
a castidade com inteira pureza. Toda alma que alcança esta perfeição, engrandece o Senhor como a
alma de Maria o engrandeceu e seu espírito exultou em Deus seu Salvador” (S. Ambrósio, Exp,. sobre
Lucas,2,22- Of. Leit. – 21 de Dez.).
O processo da encarnação do Verbo continua nos fiéis… A experiência parcial da
renovação/re-nascimento em Cristo, funda e sustenta o “desejo”, a “espera”, a “procura”…do seu
cumprimento
O tempo de Advento – Natal – Epifania, exprime e alimenta atitudes interiores constitutivas
e permanentes da fé e da espiritualidade cristã. È preciso deixar-se formar da nossa mãe a igreja
através da liturgia, com sua experiência de graça e sua riqueza de gestos simbólicos e textos.
Experiência da presença do Senhor,
desejo e espera de novo encontro
constituem a espiral sem fim da vida cristã!
Don Emanuele Bargellini, OSBCam
novembro/2020